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Câncer de colo de útero: quando detectado na fase inicial, cura é certa.


No ranking das doenças que as pessoas mais temem, vir a ter um tumor está em primeiro lugar. Mas o que explicaria, então, o fato de um tipo deles, o câncer de colo de útero, passível de prevenção e tratamento, estar em quarto lugar entre as causas de morte de mulheres por câncer no Brasil? A resposta pode ser a falta de acesso à informação, à educação em saúde da mulher e à assistência médica.


Conhecido também como câncer cervical, esse tumor é o terceiro mais comum entre as mulheres e tem como causa principal alguns tipos do vírus HPV (Papilomavírus humano), cuja transmissão se dá por via sexual. No mundo inteiro, a cada ano, ocorrem 500 mil novos casos, enquanto no Brasil, eles são cerca de 17 mil no mesmo período. Os dados são do Inca (Instituto Nacional de Câncer).


Como é considerado um grave problema de saúde pública, desde 2022 a OMS (Organização Mundial da Saúde), a Opas (Organização Pan-americana de Saúde) e a Febrasgo (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) têm reunido esforços para mudar esse quadro.


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Assim, está em curso uma campanha mundial para, até 2030, alcançar o marco de 90% de meninas vacinadas até os 15 anos de idade, 70% de mulheres rastreadas por meio de exames específicos para rastreamento (papanicolau ou teste DNA-HPV), e 90% de tratamento das lesões que precedem o tumor e câncer invasivo.


Entenda o que é o câncer de colo de útero.


Essa doença decorre do crescimento e multiplicação desordenados das células. Quando isso acontece na parte inferior do útero que se conecta à vagina, região conhecida como colo do útero ou cérvix, ele é denominado câncer do colo de útero ou câncer cervical.


O que provoca esse tipo de câncer?


A principal causa do câncer de colo de útero é uma infecção persistente pelos Papilomavírus humano (HPV) de alto risco (oncogênicos, isto é, capazes de causar câncer). A transmissão desses vírus se dá por meio do contato sexual (vaginal, oral ou anal), contato de pele com pele na região genital ou compartilhamento de brinquedos sexuais.


Estima-se que o risco de ter esse tipo de infecção, ao menos uma vez na vida, é de cerca de 50%. Apesar de ser mais frequente entre as mulheres, em 90% delas o sistema de defesa do corpo se encarregará de defendê-las. No entanto, em 10% delas, a infecção progredirá, provocando lesões locais que podem levar ao câncer.


Conheça os vários tipos de HPV.


Existem mais de 100 variações desses vírus. Alguns deles são considerados de baixo risco, como o HPV 6 e o HPV 11, mas provocam verrugas genitais e/ou anais.


Já os HPV 16 e HPV 18 são de alto risco e responsáveis por mais de 75% dos tumores cervicais. E não só: eles também estão relacionados aos cânceres de vagina, pênis, ânus, boca e garganta.


Quem está mais suscetível a esse tipo de câncer?


Todas as pessoas que tenham cérvix podem ter câncer cervical (mulheres, homens trans, pessoas não binárias, pessoas intersex com cérvix), e há um pico de prevalência nos primeiros anos da atividade sexual.


São também considerados fatores de risco as condições abaixo descritas —que podem influenciar, mas nem sempre estão diretamente conectados ao câncer:


Ter idade entre 35 a 49 anos Atividade sexual desprotegida Ter múltiplos parceiros sexuais sem proteção Ter outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), como o herpes genital Alterações nas defesas do organismo (imunossupressão decorrente de doenças, uso de determinados medicamentos, transplantes, HIV/Aids, etc.) Uso de tabaco Problemas socioeconômicos (que dificultam o acesso a exames preventivos) Ter tido muitas gestações ou gravidez antes dos 17 anos Tumores no passado (vagina, vulva, bexiga, rins) Uso prolongado de contraceptivos orais sem acompanhamento médico recomendado.


Importante saber que a maioria dos homens é portador assintomático do vírus HPV, portanto, o sexo desprotegido aumenta o risco de infecção nos grupos mais suscetíveis.


Saiba como reconhecer os sintomas.


Uma das características desse tipo de câncer é que ele tem progressão lenta. Assim, na maioria das vezes, no estágio inicial da doença, ele não apresenta sintomas (é assintomático).


Apesar disso, em um quadro mais avançado da enfermidade, poderão ser observadas as seguintes manifestações:


Sangramento (mesmo que reduzido) nos intervalos das menstruações Sangramento mais intenso e mais longo do que o de costume Sangramento vivo após as relações sexuais ou durante um exame ginecológico Dor durante as relações sexuais Corrimento intenso Odor fétido Sintomas urinários Dor pélvica Sangramento nas fezes Dor para evacuar.


Ao perceber algum desses sintomas ou sinais, é recomendado procurar um ginecologista para avaliação. Todo câncer diagnosticado precocemente (em seus estágios iniciais) melhora muito as chances de cura e sobrevida da mulher.


Como é feito o diagnóstico?


Na hora da consulta, o médico ouvirá a sua queixa, fará o levantamento de seu histórico de saúde e ainda realizará o exame ginecológico.


O especialista ainda solicitará o exame de papanicolau ou o teste DNA-HPV (opção dos serviços médicos privados, a partir dos 30 anos), capazes de detectar eventuais alterações nas células do colo uterino.


O ginecologista Ricardo Ney Oliveira Cobucci explica que "caso seja encontrada alguma anormalidade, o médico requisitará novo exame, a colposcopia, que nada mais é do que o uso de um microscópio para exame genital que também permite ao médico identificar locais para a retirada de material do colo (biópsia), cuja análise determinará a presença de câncer ou lesões precursoras [que antecedem o tumor]".


Eventualmente, exames de imagem, como a ressonância magnética, também poderão ser úteis para investigar o estágio da doença (estadiamento).


Como é feito o tratamento?


De acordo com Agnaldo Lopes, presidente da Febrasgo, o tratamento sempre é individualizado porque depende de várias situações como localização, tamanho do tumor, estadiamento, idade e até o interesse de engravidar da paciente.


"Como regra geral, para doenças mais iniciais, os tratamentos serão mais conservadores; para doenças mais avançadas, os tratamentos serão mais agressivos."


Assim, ginecologistas e oncologistas têm à disposição as seguintes estratégias terapêuticas:


Cirurgia de alta frequência (CAF) ou conização com bisturi a frio - é o tratamento principal, especialmente nas lesões de baixo e alto grau [menor ou pré-câncer, respectivamente], com perspectiva de 100% de cura; Cirurgia oncológica - retirada parcial ou total do colo do útero, retirada radical do útero e do seu colo e pode ainda incluir ovários e trompas (histerectomia radical). Em alguns casos, linfonodos também podem ser retirados (linfadenectomia pélvica); Radioterapia - a radiação pode ser usada dentro (braquiterapia) ou fora do corpo, ou ser utilizada de forma isolada, em casos menos graves; Quimioterapia - o uso de medicamentos para combater as células cancerígenas podem ser combinadas à radioterapia com o mesmo fim. Ela também pode ser indicada como tratamento principal, para conter sangramentos ou antes da cirurgia para redução do tumor.


Laser ou cirurgias minimamente invasivas e medicamentos específicos (imunoterapia) também são opções, mas ainda não são acessíveis à maioria da população.


Possíveis complicações.


Em quadros avançados elas são semelhantes aos outros tipos de tumores: dor, falência renal, problemas de sangramento, linfedema (acúmulo de líquido linfático), hidronefrose (dilatação dos rins).


Dá para prevenir?


Embora nem sempre seja possível prevenir um tumor, o câncer de colo de útero é considerado uma doença passível de prevenção.


"Nós temos um modelo de rastreamento e prevenção únicos, uma janela de oportunidade que nos permite atuar diretamente no HPV, por meio da vacina, evitando que os jovens entrem em contato com a doença. E mesmo que isso aconteça, a lesão pré-câncer pode ser diagnosticada precocemente por meio do papanicolau", fala Glauco Baiocchi Neto, líder do Centro de Referência de Tumores Ginecológicos do A.C. Camargo Cancer Center (SP).


Assim, a melhor forma de se prevenir é vacinando-se (prevenção primária), e se submetendo a exames de rastreamento periódicos (prevenção secundária), medida que pode ser adotada já a partir dos 25 anos de idade, caso você já tenha vida sexual, e até os 64 anos. As orientações constam das Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento de Câncer de Colo Uterino (Inca e Ministério da Saúde).


Quais vacinas devo tomar?


No Brasil têm sido utilizadas 2 tipos delas —a bivalente (que protege contra os HPV 16 e 18), e a quadrivalente— (garante proteção contra os HPV 6, 11, 16,18). Existe ainda um terceiro tipo, mais utilizado na Europa e nos Estados Unidos, a nonavalente (previne contra os HPV 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58), que também foi aprovada pela Anvisa, mas ainda não está disponível. Já a quadrivalente é oferecida gratuitamente no SUS para os seguintes grupos:


Meninas - de 9 a 14 anos Meninos - de 11 a 14 anos Mulheres imunossuprimidas (com HIV/Aids, câncer ou que fizeram transplante etc.) - de 9 a 45 anos (com prescrição médica) Homens imunossuprimidos - de 9 a 26 anos.


As demais faixas etárias poderão ter acesso às vacinas, quando indicadas pelo médico, em serviços privados. O limite de idade para o tipo quadrivalente, de acordo com a Anvisa, é de 9 a 45 anos para mulheres, e 9 a 26 anos em homens. A bivalente tem indicação para mulheres com idades entre 10 e 25 anos.


De quanto em quanto tempo eu tenho que fazer o papanicolau?


As consultas com o ginecologista devem acontecer pelo menos 1 vez a cada ano, ocasião em que deve ser solicitado o exame papanicolau. Após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano, ele poderá ser feito a cada 3 anos. Os cuidados com a saúde ginecológica, porém, devem ser constantes.


Fontes: Agnaldo Lopes , presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Glauco Baiocchi Neto , diretor do Departamento de Ginecologia Oncológica e líder do Centro de Referência de Tumores Ginecológicos do A. C. Camargo Cancer Center (SP); Ricardo Ney Oliveira Cobucci , ginecologista e obstetra com doutorado em ciências da saúde, coordenador do Ambulatório de Patologia Cervical da Maternidade Escola Januário Cicco da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que integra a Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e docente do curso de medicina da UnP (Universidade Potiguar/Anima/Inspirali). Revisão médica: Ricardo Ney Oliveira Cobucci.